A importância dos pisos táteis no dia a dia
Coloque-se na seguinte situação: imagine que você tem um compromisso no centro da cidade e que será necessário tomar um ônibus e andar alguns minutos para chegar ao local. Além disso, o ponto de parada mais próximo do transporte público fica a algumas quadras de sua casa. Bastaria, portanto, tomar o ônibus e caminhar um pouco para que o compromisso fosse honrado, certo? Mas agora o fator decisivo: você não enxerga.
Pois esta é a dura realidade diária de muitas pessoas, mais precisamente 6,5 milhões de brasileiros, dos quais aproximadamente 580 mil são cegos e o restante tem baixa visão. E esses indivíduos das mais variadas esferas da sociedade, mesmo que não enxerguem, têm de estudar, trabalhar, se relacionar, se divertir, enfim, exercer seus direitos fundamentais e sua cidadania.
Este é o caso de Flávio Ventura, que todos os dias vive o desafio de se locomover pela cidade de São Paulo. Auditor em uma grande empresa de telecomunicações, o paulistano conta que não teve outra opção a não ser encarar as próprias dificuldades de mobilidade, suas e da cidade, e que, mesmo após muitos anos vivendo desta maneira, ainda depende da ajuda das pessoas. “Quando estou num lugar que é novo para mim e que não está adaptado com os pisos táteis, me sinto perdido e não tenho outra escolha a não ser chamar alguém, só que nem sempre há alguém por perto”.
Segundo Flávio, ainda que houvesse ajuda, muitas vezes ele não quer o auxílio de ninguém, mas sim autonomia. “É muito complicado depender de assistência. Nós queremos ser independentes e fazer nossas próprias atividades sozinhos. Não precisamos ter alguém nos guiando a cada lugar, a cada passo, só que a esmagadora maioria dos locais não está adequada para que possamos caminhar com segurança”, protesta.
Um dia para esquecer
Quem também vive a provocação diária de ir e vir é Maria Isabel da Silva. Residente da vila Guilherme, em São Paulo, a aposentada diz que seu único passatempo é sentar-se sob o Sol, aos finais de semana, num parque próximo de casa. Seu raro divertimento, porém, certa vez, se tornou uma memória que ela prefere esquecer. “Às vezes vou sozinha ao parque, mas preciso da bengala branca e dos pisos táteis. Um dia, distraída, me perdi pelo trajeto porque tinham falhas”. Na ocasião, conta Dona Maria, ninguém estava por perto para ajudá-la e até hoje ela se recorda da sensação de incapacidade. “Não sabia direito onde estava, fiquei com medo de cair. Sem os pisos táteis fica complicado pra gente”.
Adaptar com pisos táteis é urgente
De acordo com a arquiteta e urbanista Mayara Ferreira Silva, especialista em projetos de acessibilidade, embora existam muitos locais ainda não adaptados para todos, a instalação dos pisos táteis é imprescindível em qualquer lugar. “Os espaços públicos e privados de uso coletivo têm a obrigação de possibilitar que qualquer cidadão possa transitar com facilidade e segurança, sinalizando perigos, trajetos, mudanças de direção e atividades no local”, adverte.
A projetista explica que o grande número de negligências à acessibilidade visto nas mais variadas localidades se dá por conta de que eles ainda não se adequaram às normas brasileiras vigentes. “Hoje, nas novas obras, já é prevista a questão da acessibilidade, inclusive com a colocação do piso tátil, mas as construções anteriores à NBR 9050, de 2015, ainda estão em fase de adequação, pois as medidas acessíveis não foram previstas desde o projeto inicial”.
Ficam então os seguintes questionamentos: até quando as obras anteriores a 2015 deverão estar devidamente adaptadas para todos? Até lá, como fica a situação de quem depende dos pisos táteis ou de outro recurso para a própria locomoção com autonomia? Enquanto essas perguntas ainda não têm respostas, Dona Maria Isabel, Flávio Ventura e outros milhões de indivíduos continuarão a ter seus direitos fundamentais diariamente desrespeitados, por isso, a discussão sobre a importância dos pisos táteis e da acessibilidade de maneira geral se faz cada vez mais urgente.
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